quinta-feira, 25 de março de 2010

YOU SAID YOU'D NEVER COMPROMISE



You never turned around to see the frowns on the jugglers and the clowns
When they all come down and did tricks for you
You never understood that it ain't no good
You shouldn't let other people get your kicks for you
You used to ride on the chrome horse with your diplomat
Who carried on his shoulder a Siamese cat
Ain't it hard when you discover that
He really wasn't where it's at
After he took from you everything he could steal.

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone ?

domingo, 21 de março de 2010

HOJE É DIA DE TAÇA CARLSBERG

Desejo-vos boas árvores e bons poemas.

sábado, 20 de março de 2010

VARIAÇÕES SOBRE UM CORPO



Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.



Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.



E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.



Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?


* *


Fernando Pessoa

sexta-feira, 19 de março de 2010

EU CÁ É QUE NÃO PAGO!


Havia uma senhora que queria ser deputada. Havia um partido com vagas por preencher para celebridades nas suas listas de candidatos ao Parlamento. Essa senhora vivia em Paris, o partido achou por bem candidata-la pelo círculo eleitoral de Lisboa, ela não se importou, os lisboetas também não.
Agora sempre que quer ir para casa passar o fim-de-semana a senhora tem de gastar um balúrdio em viagens e coitada, como muito boa gente pode compreender, quer que seja o parlamento a pagar a factura.



P.S.- Dá próxima vez o problema resolve-se facilmente, já que é emigrante, basta que a senhora se candidate pelo circuito da emigração. Porventura será chato ter que assistir a concertos do Tony Carreira no Olympia ou gramar com jogos entre o Lusitanos de Saint Maur e a casa do Benfica de Carcassone.
Bem sei que não é a mesma coisa que ir ver uns Renoir ao D'Orsay ou passear por Saint-Germain-des-Prés, mas faça lá um esforço, pela nação e já agora pelos lisboetas que a elegeram.

segunda-feira, 15 de março de 2010

FELIZMENTE NO SENTIDO INVERSO DO MUNDO...

... após ir à consulta médica e ouvir um luminoso "você está mais gordo não está?" (smiles)

O PROFESSOR E A HISTÓRIA

Marcelo é o caso paradigmático de quem tinha tudo para ser tudo e que no fim da história acaba por não ser nada.
É sabido que os heróis encontram a história da mesma maneira que a história encontra os seus heróis, mas decididamente Marcelo não quer nada com a história. Mais uma vez o Professor tinha o palco, tinha os apoios, tinha a onda, a vaga de fundo, tinha a expectativa, o olhar do partido e do próprio país, enfim, voltava a ter a história do seu lado:
Rangel desistia , Aguiar Branco voltava para a Invicta e Passos Coelho para a toca, mas não...
Marcelo - que proferiu mais uma vez o melhor discurso do fim-de-semana - abriu alas para Passos Coelho ou Rangel sucederem a Ferreira Leite.

Marcelo que já era professor quando Durão ainda era arruaceiro, Marcelo que já era PSD quando Cavaco ainda andava em Inglaterra, Marcelo que já era líder do Partido quando Santana ainda tinha cabelo comprido, Marcelo que já colava cartazes ao lado de Helena Roseta quando Passos Coelho ainda jogava ao berlinde, Marcelo que já era uma figura destacada no mundo académico antes de Aguiar Branco ser destaco na concelhia do PSD Porto, Marcelo que já era um comentador televisivo veterano antes de Rangel inscrever-se no partido; Marcelo que tinha tudo volta a ter nada, e quanto ao resto? Bem, quanto ao resto o PSD promete ser menos social-democrata...

domingo, 14 de março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

OUVIDO NO CAFÉ

He's so pale! [diz um] I think the kid needs an enema. [responde a outra}

Ouvido hoje de manhã pelas 08h30 com estes meus ouvidos branquinhos numa mesa ao lado da minha no Café Piolho da boca de um casal inglês que falava com sotaque do Yorkshire (ok, está parte é treta).

domingo, 7 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

THE RAIN FALLS DOWN ON A HUMDRUM TOWN



The Smiths - William it Was Really Nothin

NO QUE TOCA A DECAPITADOS... (UMA ANÁLISE FUTEBOLEIRA)


Tríptico de São João Baptista e São João Evangelista (detalhe da tela da esquerda)
Hans Memling
1479




Salóme com a cabeça de São João Baptista
Caravaggio
(c.1607)



No que toca a decapitados é minha modesta opinião que Caravaggio ganha 4-2 a Memling mas só após prolongamento.
Convém contudo lembrar que neste jogo de decapitados, aos 107 minutos o alemão ( naturalizado holandês) teve um golo mal anulado que podia ter virado a sorte do jogo.
Com a partida ferida de ilegalidade e o resultado viciado (queremos os meios tecnológicos na pintura, já!!), veio ao de cima a experiência e sangue frio do italiano que seguríssimo na defesa - fiel ao catenaccio, apesar dos barroquismos - conseguiu aguentar a pressão do ilustre representante da escola holandesa e num contra-ataque fulminante ainda marcou um quarto golo que lhe permitiu levar a taça para casa.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O QUE SABIA EU SOBRE SALÓNICA?



(Capa da versão inglesa do Livro. A versão portuguesa é da editora Pedra da Lua)


Sabia que Salónica era uma cidade do norte da Grécia, banhada pelo Egeu, que ficava perto da Bulgária e não muito longe da Turquia e da Macedónia.
Sabia que era a segunda cidade do país, que tinha sido fundada por Filipe II - pai de Alexandre o Grande - com o nome de Tessalónica, celebrando a vitória (nike) dos macedónios sobre os tessálios.
Sabia que São Paulo tinha passado por lá e deixado para a posteridade as duas famosas epístolas aos tessalonicenses.
Já tinha ouvido falar da baía e tinha visto imagens da famosa Torre Branca.
Sabia que tinha sido um dos principais portos de refugio dos judeus portugueses e espanhóis aquando da expulsão destes da Península Ibérica. Sabia também que a cidade tinha pertencido ao Império Otomano e inclusive tinha lido recentemente que Mustafa Kemal Atatürk tinha nascido na cidade durante o domínio da Sublime Porta.
Sabia ainda que em Salónica existem dois clubes famosos na Grécia: o PAOK e o Aris.

Mas além de saber umas coisas, achava...
Achava por exemplo que Salónica seria uma cidade mais fria por ficar no Norte do país, o que vendo bem as coisas é no mínimo uma brilhante lapalissada. Mas não ficava por aqui, achava também que seria uma cidade muito mais pequena do que Atenas (assim como o Porto está para Lisboa), e que seria pouco mediterrânica e pouco grega em comparação com o meu lugar comum do que é ser grego.

Mas depois um dia li o Pacheco Pereira a falar bem de um livro no Abrupto e fiquei intrigado. Mas isso foi em Maio de 2007 e rapidamente esqueci-me de tal crítica.
Em 2008 fui à Grécia e juro pelas mais sagradas alminhas, por Zeus e pelo Minotauro que nunca em momento algum lembrei-me de Salónica. Continuei portanto ignaro relativamente à segunda maior cidade do país que nos demoliu o sonho em 2004, mesmo quando nesse ano de 2008 numa sexta-feira que agora não recordo, tenha lido isto nas páginas do Ípsilon.
A verdade é que Salónica continuou a passar-me ao lado...

Até que...
O Ano era 2009, o Natal aproximava-se e eu tinha que escolher um livro para a minha irmã comprar-me como presente para eu poder desembrulha-lo com ar surpreendido na noite de consoada depois de já ter comido meio bacalhau e dois polvos...
Fui para a Bertrand e desci para a secção de história (o amor primeiro é sempre o amor verdadeiro) e reencontrei Salónica. Não há duas sem três e à terceira foi de vez, quando finalmente desfolhei aquelas folhas percebi que tinha encontrado um achado. Resolvi esconder o exemplar único atrás de um livro sobre a história do Japão e escrevi num papel:
Salónica, cidade de fantasmas - cristãos, muçulmanos e judeus de 1430 a 1950. Mark Mazower; entreguei o papel à minha irmã quando ela perguntou o que eu queria de presente de natal (impagável o olhar dela ao ler o título do livro - têm de experimentar com os vossos familiares!) e esperei pela noite de 24 de Dezembro.
O resto são muitas leituras desconexas, com saltos da página 50 para a 325 e de volta para trás. Não terei lido ainda o livro todo, mas já reli alguns capítulos 3 vezes.
Não vou aqui criticar o livro que o JPP e o Ípsilon são bem melhores que eu nessa matéria, mas aconselho vivamente a quem gosta de história e a quem gosta de guias de viagens a desfolhar este livro.
Conheço muito bem uma cidade que já não existe, Das Incantadas (com quem cruzei-me recentemente no Louvre) à já supracitada Torre Branca, passando pela Hagios Demetrios, Salónica é um bolo de infinitas camadas... dos macedónios antigos, passando pelos romanos, inscrita na Bíblia, ocupada pelos bizantinos e otomanos, porto de abrigo de refugiados judeus, com os seus minaretes e as suas inúmeras mesquitas, Salónica cresceu até ao século XX e a inclusão na Grécia Moderna como uma cidade universal, até que a Grécia através de um processo acelerado de helenização nacionalizou a mesma.
Seguiu-se a ocupação alemã e o extermínio de grande parte da população judaica da cidade em Auschwitz, e Salónica que tinha sido a cidade com a maior percentagem de habitantes judeus do mundo (nem Jerusalém ou Nova Iorque se aproximavam) tornou-se ainda mais grega, mais europeia.
O que é fantástico quando fechamos a última página é noção que temos de que Salónica tem tanto para nos contar e que nós não saberíamos nada disso se Mazower não tivesse tido a bondade de o partilhar connosco.
Com o seu relato detalhado e exaustivo, deliciosamente escrito que flui como uma grande história - como um romance intemporal com heróis, vilões, mulheres sedutoras, amores platónicos, partilha e amizade, mas também a mais vis naturezas humanas, Mazower leva-nos a viajar no espaço e no tempo. É um guia que nos leva por ruas que já não existem, a espreitar fontes que já não brotam água. Um passeio por ruelas com arcos e janelas diminutas de onde ecoam falares distantes.
Muralhas com pedras soltas, sombras ao lado de frondosos ciprestes, vagas a rebentarem no mais ecuménico porto de todo o Mediterrâneo oriental.
A Rosa do Sultão Murad - que conquistou a cidade aos bizantinos- perfumou o mundo até à alvorada do século XX, mas em menos de 50 anos foram quase erradicados 500 anos de história, o mérito de Mazower é fazer justiça a esse passado e a todos que fizeram de Salónica o que ela foi, porque o que ela é, estou certo que nenhum desses antepassados iria agora reconhecer.

Agora sim podem dizer-me que é que adianta saber muito sobre a história de algo que já não existe? E eu respondo que pobres daqueles que não sabem que o verdadeiro prazer da cultura é saber coisas que serão sempre mais inúteis do que saber abrir uma lata de sardinhas.