Desfolhando o livro antes de o ler encontra-se um conjunto de fotografias misteriosas que nos remetem para outro tempo e que a uma primeira observação nos parecem deslocadas da história. Austerlitz é isso mesmo, uma leitura que nos faz sentir essas mesmas deslocações, onde se misturam as referências históricas e a ficção. Falar de Austerlitz e referir as ideias deslocadas, a estranhíssima construção dos parágrafos, o estilo digressivo, é o melhor elogio que podemos dar ao autor. Sebald leva o seu personagem principal (Austerlitz) a percorrer a Europa e as memórias do holocausto, leva-nos a visitar Praga e Theriesenstadt, mostra-nos a diáspora forçada do povo judeu, as vitimas, os sobreviventes, os descendentes. Relembra-nos que em tempos houve uma Europa de campos de concentração e morte. É uma leitura que requer atenção, sensibilidade e gosto pela memória. Só quando se fecha a última página e se sente o que é ser um deslocado, quando a História nos envergonha, é que se percebe todo sentido e o lugar que as misteriosas fotos merecem no coração deste livro.
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