terça-feira, 10 de março de 2009

CONVERSA NUM BANCO DE ESTAÇÃO

-O que veio fazer a Ovar?- Perguntou a rapariga, naquele jeito tão próprio de quem sabe que não vai obter resposta satisfatória.
-Vim ver o mundo. - Respondeu prontamente o senhor.
-A Ovar? Está a brincar comigo...
-Não. Estou a falar muito a sério. Eu não brinco com temas sérios. Que apodreça a minha mão e caía agora aqui no chão, se não estou a falar verdade.
-Ai! Cruz credo! Não diga isso nem a brincar. - E bateu três vezes na madeira em tempos pintada de verde do banco onde sentava o rabo.
-Já lhe disse que vim a Ovar ver o mundo.
-É verdade que Ovar faz parte do mundo. - Sorriu a miúda e mastigou afincadamente a pastilha elástica, como justificando a sua triste piada.
-Há quem diga que sim... - sorriu o homem enquanto procurava algo no bolso interior do casaco sem olhar.

Após um não breve momento de silêncio a miúda rebentou mais um balão da sua pastilha e perguntou com aqueles lábios rosáceos:
- Gostou do que viu?
- Continuo a gostar... - Acendeu o cigarro e desta vez não sorriu.
- Então porque vai embora?
- Quem te disse a ti que vou-me embora? - Soltando uma inquisitória baforada de fumo.
- Ninguém, ninguém, eu é que... - Mastigou apressadamente a pastilha, como se a goma fosse a culpada da estupidez da pergunta.
- Não precisas ficar nervosa.- Levantou-se e começou a caminhar para a sombra, a caminhar para sul.
- E não estou, quem lhe disse que estou? - Respondeu ela dois minutos depois.

Descruzou as pernas e juntou os dois tornozelos bem juntos, rebentou mais um balão tal qual um ponto de exclamação muito mal pontuado.... e ficou calada a ver o homem caminhar até desaparecer na linha do horizonte.

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