quinta-feira, 30 de abril de 2009
LE PETIT PRINCE
Disclaimer: Quem gostou de ler "O Principezinho" por favor não passe deste parágrafo.
O aviso está feito, obrigado.
Quando era miúdo li o Principezinho e além de não ter compreendido muito bem o alcance da história, achei que era um livro assim meio chato, desinteressante, se bem que nesses tempos por certo não adjectivasse as coisas desta forma.
Os anos passaram e à minha volta acumulavam-se os elogios à obra de Saint-Exupéry, o que eu não compreendia muito bem, mas que ia relevando, tendo em conta que tinha lido o livro em tenra idade e que na altura nem sequer o tinha entendido lá muito bem.
Em 2007, por motivos profissionais passei a lidar diariamente com literatura infantil, e a história do pequeno príncipe revelou-se para minha surpresa ser um verdadeiro best-seller imune a qualquer crise ou a passagem do tempo.
Intrigado com tanta alusão ao livro, além de tantos exemplos de manifesta devoção pelo seu conteúdo que diariamente ia conhecendo, resolvi ir reler a obra, convencido que estava, que o meu desinteresse pela Majestade da literatura infantil se devia a um misto de má-vontade com um desconhecimento que só se pode condenar em alguém que se acha versado em termos literários.
...
Li o livro e só me apetecia bater com ele na cabeça. Como é que voltei a perder tempo com aquela chachada?
Os primeiros instintos por norma estão certos. Um dia hei-de teorizar aqui sobre essa matéria, defendendo que a alta percentagem de decisões correctas que se tomam por instinto é talvez uma das mais importantes armas que a evolução legou não só a nossa como as outras espécies.
Aos 8/9 anos equipado que estava com esse instinto certeiro, era óbvio que já tinha o discernimento necessário para saber que o principezito comparado com outros livros que já lera até então era uma valente seca, como além do mais, já tinha solidificado suficientemente o bom gosto para poder considerar a história do principezinho como sendo absurda e profundamente idiota, não obstante ainda me deliciar com desenhos animados de gosto duvidoso como a Candy Candy.
Hoje, passados todos estes anos, e uma segunda leitura, não tenho muito mais a acrescentar.
Apenas gostaria de apresentar um pedido desculpa ao Charles Darwin por ter tentado contrariar o meu instinto primário, e um enorme, gigantesco pedido de desculpas ao Pedro que tinha 8/9 por não ter levado a sério o que ele tinha dito, e por ter posto em causa o seu discernimento.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
INJUSTIÇAS DIVINAS
EXPULSÃO DOS DEMÓNIOS
CREPUSCULAR
Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.
Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
--- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
--- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.
* *
ZOOROPA
Esta foi a música que deu nome ao último albúm dos u2: Zooropa.
Há quem diga que eles continuaram e gravaram mais coisas, mas não acreditem nisso.
Obviamente que foram raptados por extra-terrestres e prontamente substituídos por uns look-alikes que vacilam indecisos entre fazer rockalhadas à Offspring ou melodias a la Ronan Kittin...
terça-feira, 28 de abril de 2009
É A GRIPE, ESTÚPIDO!
O mundo entrou em alvoroço, havendo já quem faça comparações com a gripe espanhola de 1918...
Entretanto a Organização Mundial de Saúde informou recentemente que DIARIAMENTE morrem por todo o mundo cerca de 5500 CRIANÇAS com diarreia.
Mas tal facto não é alarmista e pelos vistos também não é catastrofista. Não chama a atenção de ninguém.
Provavelmente porque sempre foi assim, e porque sempre assim será...
HERÓIS DESENHADOS
Roger Ramjet and his Eagles, fighting for our freedom.
Fly through and in outer space, not to join him but to beat him.
SALOMÉ
Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se para mim num espasmo de segredo...
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio... Alabastro! A minha´alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas...
Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:
Mordoura-se a chorar - há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo...
* *
Mário de Sá-Carneiro
segunda-feira, 27 de abril de 2009
LAPIDAR
Benjamin Disraeli
HERÓIS DESENHADOS
This is 29 Acacier Road. And this is Eric - the schoolboy who leads an exciting ...
SEMÂNTICA ELECTRÓNICA
Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!
* *
Vitorino Nemésio
domingo, 26 de abril de 2009
TROVA DO VENTO QUE PASSA
Adriano Correia de Oliveira - Trova do vento que passa
sexta-feira, 24 de abril de 2009
HOJE ACORDEI ASSIM
Carlos Gardel - Por una cabeza (1927)
UN PERRO IBERICO, POR SUPUESTO...
Conta a história, que em 1987 quando o FC Porto foi Campeão Europeu, os jornais espanhóis apresentavam parangonas que louvavam a vitória ibérica, mas passado um ano a derrota do Benfica na final da mesmíssima competição já foi considerada uma derrota portuguesa.
Sempre brinquei com esta história, sem saber bem se era verdade ou era mentira, esta história dos espanhóis serem uma cambada de invejosos que se tentavam colar aos nossos tão raros feitos.
Mas na semana passada - quando eu andava meio parvo com a alegria idiota que os portugueses sentiam por haver um cão americano, nascido nos states, criado e doado por uma familia americana a uma outra familia americana - surgiu esta bela notícia que veio comprovar que afinal a inveja espanhola além de não ser um mito, é ainda bem mais grave (e já agora idiota) do que eu pensava...
quinta-feira, 23 de abril de 2009
A HISTÓRIA QUE CONTAM AS FOTOS
A história é uma fotografia a preto e branco de um soldado, que retira da parede o quadro de um ditador, que mesmo depois de morto ainda representava o regime.
AS PESSOAS SENSÍVEIS
Como tenho a mania de ser diferente, e como não gosto de ir com a corrente do rio, deixo aqui outro belo poema da poetisa que escrevia poemas transparentes como as águas do mar.
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
* *
quarta-feira, 22 de abril de 2009
SOMA DESCARTES COM RIMBAUD E DIVIDE POR TI
2. Eu sou um outro.
3. Eu continuo a ser mesmo quando não existo.
4. Logo eu sou mesmo que não o seja.
terça-feira, 21 de abril de 2009
1,95€?
"De Battre mon Coeur s'est Arrêté - De Tanto Bater o meu Coração Parou " de Jacques Audiard
Sábado sai com o público por apenas mais 1,95€.
Depois, não digam que eu não vos avisei.
PARAÍSO
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
* *
David Mourão Ferreira
segunda-feira, 20 de abril de 2009
sexta-feira, 17 de abril de 2009
MANIFESTO CONTRA O GOVERNO?
Uma músiquinha de trazer por casa, com as guitarras preguiçosas do costume. Uma voz de rebarbado bem pior que a minha porcaria de voz, e uma letra, que é um poema do mais básico que já ouvi em muito tempo.
Basta pegar em cinco crianças de 9 anos, e fazer um rápido brainstorming de 15 minutos, e prometo que se consegue arrancar-lhes uma letra bem mais acutilante para a governação de Sócrates, e sem a necessidade de usar a palavra "merda" (ups! disse outra vez) do que esta (ah queriam!!!) bosta de música que os xutos nos apresentaram.
SAD PROFESSOR
I'm drifting in and out of sleep.
Long silence presents the tragedies
Of love. Not the age. Get afraid.
The surface hazy with attendant thoughts.
A lazy eye metaphor on the rock.
Sempre considerei o Michael Stipe um poeta que escreve como os grandes, e que ainda para mais, como se isso não bastasse, canta como os melhores.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
quarta-feira, 15 de abril de 2009
terça-feira, 14 de abril de 2009
MÚSICA AQUÁTICA
250 anos depois do dia da sua morte, volto a apresentar Handel, desta vez com a sua gloriosa Water Music.
LARANJAS
E quem foi a escolha dos sociais-democratas? Nada menos (0 mais para aqui não é chamado) que o seu apagadíssimo líder parlamentar.
O PSD entra derrotado nas eleições e reforça essa ideia com uma escolha tudo menos carismática.
Rangel é um brilhante professor, um ilustre homem do direito, um homem sapiente, culto e inteligente. Tem contudo uma profunda inabilidade política. Rangel parece precisar sempre de se colocar em bicos de pé para ser ouvido melhor no nosso parlamento. Passa a imagem que se esqueceu sempre da página onde estavam os dados que podiam refutar determinada ideia.
Acima de tudo Rangel é aos olhos dos portugueses um perfeito desconhecido, mais um de Lisboa (sendo ele portuense) que quer ir mamar para Bruxelas, como comentava hoje alguém na mesa ao lado do café.
Isto diz tudo sobre a escolha do PSD.
O AMOR E A MORTE (CANÇÃO CRUEL)
Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostrava,
e te enleava
aos meus músculos!
Olhos de êxtase,
eu sonhei que em vós bebia
melancolia
de há séculos!
Boca sôfrega,
rosa brava
eu sonhei que te esfolhava
pétala a pétala!
Seios rígidos,
eu sonhei que vos mordia
até que sentia
vômitos!
Ventre de mármore,
eu sonhei que te sugava,
e esgotava
como a um cálice!
Pernas de estátua,
eu sonhei que vos abria,
na fantasia,
como pórticos!
Corpo de ânsia,
flor de volúpias sem lei!
Não te apagues, sonho! Mata-me
como eu sonhei.
* *
José Régio
segunda-feira, 13 de abril de 2009
ABRIL
April is the cruellest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.
Foi assim que T.S. Eliot descreveu Abril no seu majestoso "The Waste Land". É com este verso que começa um dos poemas maiores da língua inglesa, obra-prima do século XX, criada por esse poeta que nasceu americano para vir a morrer inglês.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
VIAGEM PELA MINHA ESTANTE - TAKE FOUR
Continua a viagem por mais uma aparente zona de poesia. Pouco tenho a destacar além de um maço de poesia maldita e de um relógio sem pilha que se encontram na vizinhança duma ou doutra antologia, e na companhia de mais alguns dos nomes maiores da minha estante: Camões, Auden, Neruda, Herberto, Sá-Carneiro, Pessoa...
quinta-feira, 9 de abril de 2009
GEORGE WASHINGTON TAMBÉM TINHA UM PRIMEIRO CÂO
Não era só um (eram onze), não vivia na Casa Branca (não existia), mas Sweetlips que vemos aqui com o primeiro Presidente americano (George Washington) foi para todos efeitos o antecessor do cão d'água português de Obama - que enche de orgulho este triste mas contudo hilariante país onde vivemos - no papel de Primeiro Cão dos Estados Unidos da América.
MAD GIRL'S LOVE SONG
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)
The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I fancied you'd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)
I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)
* *
Sylvia Plath
VEM SENTAR-TE COMIGO LÍDIA, À BEIRA DO RIO
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
* *
Ricardo Reis
OS NOSSOS DIAS
quarta-feira, 8 de abril de 2009
LUSITANICES
terça-feira, 7 de abril de 2009
MISTERI / MISTERO
1.
I àusi zirà in alt i vuj
su li pichis secis dai lens,
no jot il Signòur, ma il so lun
ch'al brila sempri imèns.
Di tantis robis ch'i sai
i 'n sint tal còur doma una,
i soj zòvin, vif, 'bandunàt,
cu'l cuàrp ch'al si consuma.
I stai un momènt ta l'erba
dal rivàl, tra i lens nus,
po' i camini, e i vai sot il nul,
e i vif cu la me zoventùt.
*
2.
Oso alzare gli occhi
sulle cime secche degli alberi
non vedo il Signore, ma il suo lume
che brilla sempre immenso.
Di tutte le cose che so
ne sento nel cuore solo una:
sono giovane, vivo, abbandonato,
col corpo che si consuma.
Resto un momento sull'erba
della riva, tra gli alberi nudi,
poi cammino, e vado sotto le nuvole,
e vivo con la mia gioventù.
* *
Pier Paolo Pasolini
O mesmo poema pode ser lido aqui na versão em friuliano (1) que é o dialecto da região de Friuli no norte de Itália em que Pasolini o escreveu originalmente e em italiano (2) língua em que poeta escreveu a maior parte da sua poesia e prosa.
ARTE POÉTICA
Mirar el río hecho de tiempo y agua
y recordar que el tiempo es otro río,
saber que nos perdemos como el río
y que los rostros pasan como el agua.
Sentir que la vigilia es otro sueño
que sueña no soñar y que la muerte
que teme nuestra carne es esa muerte
de cada noche, que se llama sueño.
Ver en el día o en el año un símbolo
de los días del hombre y de sus años,
convertir el ultraje de los años
en una música, un rumor y un símbolo,
ver en la muerte el sueño, en el ocaso
un triste oro, tal es la poesía
que es inmortal y pobre. La poesía
vuelve como la aurora y el ocaso.
A veces en las tardes una cara
nos mira desde el fondo de un espejo;
el arte debe ser como ese espejo
que nos revela nuestra propia cara.
Cuentan que Ulises, harto de prodigios,
lloró de amor al divisar su Itaca
verde y humilde. El arte es esa Itaca
de verde eternidad, no de prodigios.
También es como el río interminable
que pasa y queda y es cristal de un mismo
Heráclito inconstante, que es el mismo
y es otro, como el río interminable.
* *
Jorge Luis Borges
ADAGIETTO
Adagietto da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler
Herbert von Karajan - Orquestra filarmónica de Berlim
domingo, 5 de abril de 2009
sábado, 4 de abril de 2009
sexta-feira, 3 de abril de 2009
ROMANCE SÓNAMBULO
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.
Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha,
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendrá? ¿Y por dónde...?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.
Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando
desde los puertos de Cabra.
Si yo pudiera, mocito,
este trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
Compadre, quiero morir
decentemente en mi cama.
De acero, si puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿ No veis la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca.
Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo.
Ni mi casa es ya mi casa.
Dejadme subir al menos
hasta las altas barandas,
¡Dejadme subir!, dejadme
hasta las altas barandas.
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.
Ya suben los dos compadres
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre.
Dejando un rastro de lágrimas.
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata.
Mil panderos de cristal,
herían la madrugada.
Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
¡Compadre! ¿Dónde está, dime?
¿Dónde está tu niña amarga?
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuántas veces te esperara,
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!
Sobre el rostro del aljibe,
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.
* *
Federico García Lorca
KITTEN PIG
Pentaphobe - Kitten Pig (2008)
Esta descoberta foi-me apresentada pela minha fonte nº 1 de coisas giras e com bom gosto.
E como todos sabem não se revela a identidade de uma fonte.
OS PROBLEMAS DA JARDINAGEM QUANDO SE VIVE COM UMA TIA AVÓ
Fui comprando vasos. Primeiro salva, depois alecrim, seguiu-se um arbusto que ainda hoje não faço ideia do que seja. Depois chegaram o manjericão e os coentros.
Entrou então em cena a minha tia-avó. Num misto de quem quer ajudar com quem quer complicar, começou a regar as minhas plantas todos os dias. Rapidamente o manjericão deu de si.
A recém chegada salsa não aguentou as cheias com periodicidade diária.
Houve a primeira reunião sobrinho-neto-armado em jardineiro com a tia-avó-regadora compulsiva e os resultados foram satisfatórios e ambas as partes os consideraram conclusivos.
A partir desse momento a tia-avó passava a deter o monopólio da rega desde que o fizesse com parcimónia, já o sobrinho neto ficaria encarregado de retirar as folhas secas.
A paz prometia vingar e frutificar, ainda para mais a Primavera adivinhava-se...
Mas na prática o acordo revelou-se um desastre. E duas semanas depois a seca grassava nos vasos e a minha horta de cheiro corria perigo de sobrevivência.
Acusei frontalmente a outra parte de sabotagem e nesse dia ameacei nem sequer fazer o jantar.
Retomei a rédea da horta e durante uma semana as coisas pareciam estar bem encaminhadas...
To be continued
VIAGEM PELA MINHA ESTANTE - TAKE THREE
Não há muita decoração para falar, um komboloi com o qual simplesmente não me entendo e uns headphones (não visiveis na imagem) de um telemóvel que já não tenho.
Resta falar da desarrumação temática, pois ela aqui ganha nova cor. Mistura-se Pamuk com Mexia, livros que saem com o Público com Hobbes. E a história começa a marcar pontos para este lado da estante...
A ESTUPIDEZ
Pelo que me foi dado ver nos anos de vida que levo, não há característica humana mais nefasta que a estupidez, e é isso que vou tentar explicar aqui nas linhas que se seguem:
Um estúpido como todos sabem, não sabe medir o grau dos seus actos. Um estúpido é o pior amigo que se pode ter. Todos sabemos que o mais provável de acontecer é a estupidez do seu amigo contagia-lo a si e nunca o contrário, ser você a contagia-lo com alguma forma de não estupidez.
Um amigo estúpido levará os amigos não estúpidos, mais cedo ou mais tarde a cometer uma estupidez. Esta é a primeira lei fundamental que todo aquele que ache por bem travar amizade com um estúpido deve ter em mente.
A estupidez é uma coisa tramada. Quando somos surpreendidos numa esquina qualquer do dia-a-dia com a dita, nós próprios ficamos um pouco estúpidos e sem saber bem como agir.
"Ele deve estar estúpido!?"... "Como é que ele foi fazer uma coisa assim? Não consigo Entender!"
Essa é a verdade, a estupidez não só nos apanha de surpresa, como nos deixa estúpidos com o seu aparecimento.
Não é estúpido dizer que na presença de um acto estúpido o mais natural é ficar-se estúpido e não saber o que fazer.
Quantas vezes já nos consideramos estúpidos após sermos confrontados com uma estupidez ou um acto de uma pessoa estúpida?
Isso só revela o quão perigosa pode ser a estupidez.
É preocupante pensar neste poder da estupidez. Se nos lembrarmos de que quando somos alvo de um acto de maldade não ficamos possuídos por essa mesma maldade. Ou de quando somos alvo de um acto seja ele de inveja, de ciúme, ou outro qualquer, não ficamos subitamente invejosos, ciumentos....
E pode-se aplicar a mesma ideia à benevolência, à caridade... até a irritante antipatia não nos torna automaticamente antipáticos.
Então o que tem a estupidez? Que força motriz move esta qualidade do estúpido que nos leva a todos a assumir pelo menos uma vez na vida que nos sentimos estúpidos perante algo ou alguém estúpido?
Que há enormes diferenças entre "ser" e "estar" estúpido todos sabemos, agora que há diferentes graus de estupidez, distintas formas de ser estúpido nem todos reparam.
Olhando rapidamente para os estúpidos que se cruzaram comigo até hoje, sinto-me tentado a dividi-los em três categorias.
Uma primeira que denominaria de estúpido ocasional ou de ocasião, uma segunda que chamaria de estúpido per si e por fim a categoria estupidamente estúpido.
Começando pelos "ocasionais", incluiria nesta categoria todos aqueles que foram, são ou serão estúpidos num determinado momento da vida. Talvez fruto das circunstâncias, talvez contagiados por uma onda de estupidez ou um muito improvável estúpido encantador. Em suma não interessa a razão ou a desculpa, foram estúpidos num determinado momento que se pode datar e explicar. Não é grave, estejam descansados.
Aliás, inclui-se também neste grupo todo aquele que se sentiu estúpido aquando do ocorrido.
Passando à segunda categoria as coisas piam mais fino. Um estúpido per si já é todo ele uma coisa muito estúpida, e como tal cabem nesta categoria todos aqueles que de facto são estúpidos.
E quem são esses estúpidos? São aqueles que dizem coisas estúpidas sem sentido, que actuam de forma estúpida e que conseguem sempre surpreender os amigos com a mais recente estupidez. São na maioria dos casos ingenuamente estúpidos, mas por norma estão equipados com a capacidade de medir os resultados dos seus actos e perceber que cometeram uma estupidez. Digamos que não são suficientemente estúpidos para ficarem indiferentes as suas estupidezes, mas são suficientemente estúpidos para não conseguirem evitar de cometer mais uma estupidez.
Normalmente quando alertados ou confrontados por um amigo os estúpidos per si conseguem perceber o quanto foram (ou são) estúpidos.
Alguns contudo, devido a um maior grau de estupidez podem demorar bastante a perceber a dimensão da gravidade do que acabaram de fazer ou dizer. Mas é tudo uma questão de paciência, de se lhes fazer "um desenho", afinal de contas para que servem os amigos?
Mas como todos sabem, por mais desenhos, atenção e paciência que dediquem a um amigo estúpido ele acabará por reincidir, estupidez oblige!
Deixando os estúpidos per si de lado chegamos aos estupidamente estúpidos.
E estes, meus amigos, são de tal maneira que nem sei por onde começar...
Comecemos pelo óbvio. Não há estúpido pior do que o estupidamente estúpido!
Esta sub-espécie de Estúpido é um perigo para si mesmo e para quem o rodeia. É o tipo de estúpido que de tão estúpido que é nunca há-de perceber o quão estúpido é.
Pior do que isso, não percebe que é estúpido e ainda pensa que estúpidos são os outros.
Para ilustrar o conceito lembro-me logo do George W. Bush, aquela forma única de dizer à Rainha da Inglaterra que tem mais de duzentos anos e sorrir como se não fosse nada.
É ser-se ridículo e sorrir, por simplesmente não ter noção do ridículo.
E é esta incapacidade de ter noção do real e do ridículo que torna este tipo de estúpido uma séria ameaça para a humanidade.
São tão ou mais perigosos que um fanático, porque ao contrário dos fanáticos, nunca saberão se controlar e poderão atacar a qualquer momento, não são guiados por um ideal, por um motivo, e pior de tudo... são desprovidos de lógica. É impossível antecipar os passos de um estupidamente estúpido.
E o pior não é a imprevisibilidade dos estupidamente estúpidos. A pior das notícias é saber, que no meio de nós pode caminhar um, absolutamente incógnito. É isso mesmo que estou a dizer. Sim. No meio dos seus amigos e familiares pode estar um perigosíssimo estupidamente estúpido que até hoje ainda não deu sinais de si.
Este grau de estupidez é tão grave que as pessoas à sua volta podem só reparar nessa pessoa quando ela já for o Presidente do País, como aconteceu nos Estados Unidos.
Mas não pensem que foi só o Bush Jr, a história está cheia de exemplos. Em Roma foi preciso um incêndio que destruiu 11 dos 14 bairros da cidade, para os romanos perceberem o perigo da estupidez de Nero.
Já em Portugal, ficarmos 60 anos sobre o domínio espanhol foi o castigo que levamos para aprendermos a reconhecer um Rei estúpido, mal este pusesse um pézinho nos degraus que davam acesso ao trono. Vide o que aconteceu ao Afonso VI, e digam lá se os portugueses não aprenderam rapidamente a lição?
Mas não pensem que isto acontece só aos outros! Olhem com mais atenção quem vos rodeia. Ao mínimo sinal de estupidez não consciente, abram os olhos, tomem medidas, alertem as autoridades, não hesitem.
Não se esqueçam que se deixarem as coisas andar, quando quiserem fazer alguma coisa provavelmente será tarde de mais.
E além do mais tenho para comigo que a estupidez é muito provavelmente contagiosa, mas não vos quero assustar...
quinta-feira, 2 de abril de 2009
NORTHERN WHALE
The Good, the Bad & the Queen - Northern Whale (2007)
VIAGEM PELA MINHA ESTANTE - TAKE DOIS E MEIO
quarta-feira, 1 de abril de 2009
SE HOUVESSE DEGRAUS NA TERRA...
Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
* *
Herberto Helder
PROMESSA
SEEBALD
Agora volto a este autor que o mundo injustamente desconhece o quão grande é, porque encontrei aqui e aqui dois belíssimos posts num blogue que é um achado e que vos convido a visitar.
DREAMING
All people dream, but not equally.
Those who dream by night in the dusty recesses of Their mind,
Wake in the morning to find that it was vanity.
But the dreamers of the day are dangerous people,
For they dream in their dreams with open eyes,
And make them come true.
* *
D.H. Lawrence